Topo

Alexandre Frota: "A classe artística é desunida e pensa no próprio umbigo"

Leo Dias

24/04/2019 10h13

Alexandre Frota (Foto: Divulgação)

Eleito deputado federal por São Paulo com mais de 150 mil votos, Alexandre Frota deixou de lado a vida artística – ele já chegou a ser galã da TV Globo – para ingressar no que ele chama de 'tropa de choque' do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Se antes de ser político já agia como ativista e protestava contra ações, segundo ele, absurdas de artistas envolvendo leis de incentivo à cultura – como o já citado caso de quase R$ 3 milhões de incentivo ao programa de viagem e entrevistas de Giovanna Ewbank -, atualmente o deputado está debruçado sobre a reforma da Cultura no país.

Frota é membro titular da Comissão de Cultura do Governo e vice-líder do Partido Social Liberal na Câmara dos Deputados. Ele julga que "a classe artística é desunida e só pensa no próprio umbigo", que viveu "uma 'farra da cultura' em governos anteriores" e que por isso teria aderido à campanha "Ele Não", contra Bolsonaro, durante a corrida eleitoral de 2018.

Além de Giovanna Ewbank, o Blog do Leo Dias quis saber quais outros artistas estariam envolvidos, segundo Frota, nesta "farra". Ele cita nomes de Gabriela Pugliesi, Gilberto Gil, Daniela Mercury, Wagner Moura, Letícia Sabatella, entre outros. Os posicionamentos deles serão também reproduzidos ao final deste texto.

Leia a seguir a entrevista completa com Alexandre Frota:

Blog do Leo Dias – Qual é exatamente o seu papel atual neste governo? Você está atuando de que maneira?

Alexandre Frota – Sou membro titular da Comissão de Cultura e sou vice-líder do PSL (Partido Social Liberal) dentro da Câmara dos Deputados. Tenho trabalhado em média 16 horas por dia. Desde a transição de Governo, nós montamos uma equipe 'fantasma' que já atuava de maneira sigilosa dentro do extinto Ministério da Cultura. Esse ministério, nos últimos vinte anos, atravessou uma fase muito ruim, foi boa somente para artistas que se beneficiaram das leis de incentivo, tanto da Lei Rouanet quanto das leis de audiovisual. Não podemos generalizar, mas temos que acabar com a 'farra da Cultura'. Meu papel lá é de fiscalizar, de propor, de dar novas ideias, de acompanhar e lutar para que as prestações de conta sejam claras e não gerem tantos problemas como geraram no passado.

Você ajudou a impedir (ainda em 2017) que Gabriela Pugliesi e o marido Erasmo conseguissem captar R$ 2 milhões em incentivos nessa lei. Como você avalia o projeto deles? Era relevante?

Não vou entrar no mérito se o programa era relevante ou não. Pra eles poderia até ser, mas nós entendemos na Cultura que não seria possível [aprovar os incentivos] naquele momento do país. Eles haviam solicitado um pedido de isenção, principalmente na Lei Rouanet e na Lei Audiovisual, e queriam ser incentivados pelo Ministério da Cultura num momento de total crise. Na época eu não era deputado, mas atuava bastante junto aos deputados. Nós levamos esse caso à Brasília. O deputado Sóstenes Cavalcante, do DEM na época, presidente da CPI [da Lei Rouanet], entendeu, nos atendeu, e levou pra frente isso, mostrando que tinha coisas mais importantes no país do que incentivar um seriado que seria filmado nas principais praias e pousadas, mostrando os grandes 'points', pelo casal.

Como conseguiu ajudar a impedir a aprovação se ainda não estava no governo?

Foi com a ajuda dos amigos que estavam na CPI, que mostrou a quantidade de descaso com o nosso dinheiro. O tráfico de influência, a lavagem de dinheiro, que foram realizados por muitos anos por grandes produtoras, grandes atores, atrizes e diretores. De uma forma extremamente abusiva, e é isso que não pode mais acontecer.

[Nota do editor: Aprovado em maio de 2017, o relatório final da CPI da Rouanet sugeria o indiciamento de 12 pessoas envolvidas em esquemas de desvio de verba de incentivo, entre eles representantes do Grupo Bellini, já denunciado na Operação Boca Livre, e também um maestro da Orquestra Filarmônica de São Paulo. Na maioria dos casos, os esquemas envolviam uso de dinheiro de incentivo para produção de eventos e festas particulares ou simplesmente inexistentes. Diferentemente do que sugere Frota, a CPI não incluiu em seu relatório final denúncias contra "grandes produtoras, grandes atores, atrizes e diretores".]

Outro de seus alvos foi a atriz Giovanna Ewbank. O programa de TV dela (sobre o arquipélago de Fernando de Noronha) teve aprovação para captar mais de R$ 2 milhões em patrocínio pela Lei do Audiovisual. Na sua avaliação, o projeto teve valor cultural? Qual a sua avaliação sobre o resultado final apresentado ao público?

Nesta questão, ela seguiu a mesma linha da Gabriela Pugliesi e buscou incentivo para fazer um seriado todo filmado em Fernando de Noronha, onde tem uma pousada. Uma produção cara, para um programa que tem uma audiência pífia. A CPI da Cultura já tinha terminado e o Bruno [Gagliasso, marido de Ewbank], com a influência dele, deve ter bons relacionamentos e conseguiu que a Giovanna fosse atendida. Eles incentivaram mais de R$ 2 milhões, e acho que ela não tem esse valor todo, mas é minha opinião. A esposa dele fez o programa, mas esse tipo de coisa não tem mais moleza.

Alexandre Frota (Foto: Divulgação)

Não é de hoje que você critica algumas pessoas que fazem uso desses incentivos fiscais. Qual é o seu pensamento em relação à Lei Rouanet e aos incentivos fiscais voltados para a Cultura? O que precisa mudar?

Primeiro é necessário mudar o nome da Lei Rouanet [Nota do editor: Esta entrevista foi realizada dias antes de o governo anunciar as mudanças na lei, inclusive do nome]. O nome está contaminado. É uma lei que precisa ser reformada, para que possa exercer exatamente a função dela, a de incentivar novos produtos, atores e grupos. A Lei Rouanet foi invadida, abusada, e isso a gente não quer mais. Tem que ser colocado um teto de valor. Antes era de até R$ 60 milhões ou mais. Temos que buscar o entendimento. A lei não é ruim. Fomentar a cultura é gerar emprego direto ou indiretamente, mas temos que estar antenados para não existir pessoas que sejam preteridas, outras preferidas, os mesmos grupos, os mesmos CNPJs, as mesmas pessoas sempre buscando seus incentivos.

Muitos políticos criticam a Lei Rouanet e dizem que por trás dela existe um "esquema". Qual esquema?

Existia, sim. Algo que incluía pessoas de dentro do próprio Ministério da Cultura, durante muitos anos. Técnicos, pessoas ligadas ao ministro, aos secretários. Agora precisamos sair da inércia e mostrar para o que viemos. O Lula foi uma mãe para boa parte da classe artística.

Você acredita que precisa existir uma lei de incentivo à Cultura ou neste momento de crise do país não é necessário?

Acho que ela precisa existir, sim. Temos que fazer uma reforma cultural no país, um trabalho sério e com pessoas sérias. Não queremos mais pessoas que queiram de alguma forma usurpar do nosso dinheiro público. Houve um derrame muito grande de dinheiro, uma farra da cultura incontrolável. Tínhamos pessoas encabeçando determinadas 'panelas', como a Letícia Sabetella, por exemplo. Essa atriz transitou livremente ao lado da Dilma Roussef. O próprio Wagner Moura conseguiu aí um incentivo de R$ 10 milhões pra fazer "Marighella", um filme que retrata um terrorista, assassino e bandido, e foi retratado como herói. Esquerdista, como o Wagner é, foi assim que ele tratou. Inaceitável. O Wagner sumiu e o filme sumiu. O povo brasileiro acordou.

Quem são os outros famosos que usufruem desses benefícios?

Vamos mostrar em breve. O Gilberto Gil é um que acabou de ser processado e tem que devolver aos cofres públicos R$ 1 milhão. Muito em breve a Secretaria de Cultura mostrará esse passado. Tem que ser tudo colocado na mesa. Não posso falar nomes para não passar por cima de regras, mas em breve todos saberão.

Você já deu entrevistas dizendo que a "classe artística traiu o Brasil". Qual foi essa traição?

Quando eu falo isso quero dizer que a classe artística, além de ser desunida, pensa no próprio umbigo. Eu vivi lá dentro e sei como é. Parte da classe artística traiu o Brasil quando aceitou e se submeteu a essa pouca-vergonha que foram as leis de incentivo e a maneira que eles trabalharam isso descaradamente. Eles traíram o país. Essas pessoas não pensavam no povo brasileiro.

Você acha que o apoio de alguns artistas ao antigo governo estava atrelado aos tais incentivos fiscais conquistados por eles?

Claro. Temos uma lista de artistas que apoiaram Lula e Dilma, cantores principalmente. Daniela Mercury reclama tanto, mas já foi incentivada para show e camarote. Ela que lançou a hashtag 'Ele Não'. Essas pessoas se preocuparam tanto pela derrota do Jair Bolsonaro por isso.

Você recebe muitas ameaças por falar o que pensa. Tem medo? Se arrepende da vida política?

Falar a verdade nesse país é uma qualidade, incomoda muita gente. Se quiserem me ameaçar, tentem a sorte. Eu não tenho medo. Temos que fazer o nosso trabalho. Não faço nada de errado, não estou roubando, lavando dinheiro, corrompendo. Estou do lado da razão. Estou adorando a vida política, é um momento muito feliz da minha vida. Tenho sido um dos deputados federais mais ativos dentro da Câmara dos Deputados Federais.

**

OUTRO LADO

O Blog do Leo Dias procurou os artistas citados por Alexandre Frota nesta entrevista para que pudessem comentar as afirmações do ator e deputado.

A assessoria de Gabriela Pugliesi enviou a seguinte nota:"Em 2017, Gabriela foi procurada por uma produtora para fazer um programa de televisão, mas não se sentiu à vontade com o formato do programa e decidiu não seguir com o projeto. A produtora, Rio Cinema Digital, com a qual Gabriela não tem nenhuma relação, seguiu com a captação de recursos, mas o projeto nunca saiu do papel por conta da negativa de Gabriela. Erasmo não fazia parte desse projeto inicial. Qualquer questão em relação a lei de incentivo em si deve ser feita diretamente a quem solicitou o incentivo, no caso a produtora."

Sobre o caso do programa de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso na GNT, o advogado do casal já havia se manifestado em nota, sustentando que "o programa 'No Paraíso com Gio' não foi idealizado pela atriz e apresentadora Giovanna Ewbank", mas "é de propriedade de uma produtora independente, da qual a Giovanna não tem qualquer participação acionária". A nota diz ainda que a atriz "foi contratada por essa produtora (…) como qualquer outra atriz ou apresentadora poderia ser, e cedeu seu nome para o programa (…), ela é mera prestadora de serviço".

Também procurada pelo blog, a produtora de Letícia Sabatella, Bianca de Felippes, informou oficialmente que a artista nunca captou recursos da Lei Rouanet e nunca encabeçou nenhuma "panelinha", além de já ter feito críticas às políticas ambientais do Governo Dilma. A equipe da atriz informou ainda que as declarações do deputado se tratam de "fake news" para agradar os seus eleitores e alegou que o deputado terá que provar as acusações.

A assessoria do cantor Gilberto Gil preferiu não falar no assunto e alegou considerar que as discussões com Alexandre Frota devem ser tratadas na Justiça. Ainda em conversa com o blog, a assessoria lembrou que o deputado federal foi condenado a indenizar o cantor em R$ 50 mil por comentários feitos no Twitter recentemente contra Gil.

A assessoria de imprensa de Wagner Moura afirmou que o ator não irá se pronunciar em relação à entrevista de Alexandre Frota ao blog. Sobre o filme "Marighella", cabe registrar que o longa-metragem teve estreia no Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. O projeto foi autorizado a captar incentivos no valor total de R$ 10,2 milhões, mas obteve R$ 3,5 milhões. O longa ainda não tem previsão de entrar em circuito nas salas do Brasil.

Em outubro de 2018, Daniela Mercury já havia se pronunciado ao UOL sobre os mesmos pontos levantados por Frota. Na ocasião, Daniela disse que não tomou parte nos protestos contra Bolsonaro por ter feito uso da Lei Rouanet, mas pelas posições políticas expressas pelo então candidato. De 2007 a 2016, a cantora captou cerca de R$ 3,6 milhões em apoio a 12 projetos distintos. Sua justificativa é de que as apresentações eram gratuitas para o público.

*Com colaboração de Lucas Pasin e Vinícius Moura

Sobre o autor

Leo Dias é jornalista e apresentador do programa “Fofocalizando”, do SBT. Foi correspondente internacional da rádio portuguesa RDP, passou pelas TVs Bandeirantes e RedeTV! e apresentou um programa na rádio FM O Dia, líder de audiência no Rio de Janeiro, onde entrevistava políticos, jogadores de futebol, dirigentes e muitos artistas. Assinou uma coluna de celebridades no jornal "O Dia" e também esteve nos jornais "Extra" e nas revistas "Contigo", "Chiques e Famosos", "Amiga" e "Manchete". Apesar dessa experiência, sempre se definiu como repórter, tamanha paixão pela apuração da notícia e pela vontade em produzir conteúdos exclusivos.Polêmico, controverso e dono de uma forte personalidade, Leo conquistou um público cativo por dar notas explosivas e audaciosas num mundo artístico mais conservador. Seu lema: “A fama tem um preço estou aqui para cobrar”.

Sobre o blog

Notícias exclusivas sobre o mundo das celebridades e os bastidores do show business no Brasil.

Blog do Leo Dias