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Felipe Neto passa de revoltado a politizado e lança mais um mega-seller

Leo Dias

10/08/2019 18h24

Felipe Neto (Washington Possato)

Os números de Felipe Neto impressionam! São mais de 7 bilhões e meio de visualizações de vídeos e 33,9 milhões de inscritos no YouTube – isso apenas em seu canal particular, fora o que tem em parceria com o irmão Luccas, outro prodígio do mundo da Internet –, 10,7 milhões de seguidores no Instagram, outros 9,3 milhões no Twitter, 655 mil livros vendidos, além de vários produtos licenciados. Essas estatísticas fazem do youtuber de 31 anos, o quinto com maior número de inscritos no mundo, um verdadeiro fenômeno.

Empresário bem-sucedido, Felipe também tem se afirmado como um formador de opinião no cenário político brasileiro, despertando ódio em alguns e admiração em outros tantos, que reconhecem um grande amadurecimento do polêmico "jovem revoltado de óculos escuros", do canal 'Não faz sentido'.

Prestes a lançar seu quarto livro, 'O mundo segundo Felipe Neto – Verdades hilárias da vida' (Editora Pixel), certamente mais um mega-seller – categoria que vai além dos best-sellers, com milhares de cópias vendidas –, o youtuber conversou com o Blog do Leo Dias sobre como é ser um sucesso editorial de vendas em um país que não valoriza a leitura tanto quanto deveria, e por que decidiu se mostrar mais politizado em suas redes.

Felipe revela também não ter vergonha de seu passado de youtuber rebelde, fala da responsabilidade que é ser um influencer para crianças e jovens, e revela que passou a receber ameaças após seus comentários sobre o cenário político, fato que o obrigou a andar com seguranças por onde anda. O youtuber fala ainda sobre aquele que vai ser, segundo ele, o maior desafio de sua vida: um projeto para melhorar a vida das pessoas através da educação.

Leia a entrevista completa com Felipe Neto:

Blog do Leo Dias – Como é lançar mais um projeto com a certeza de sucesso?

Felipe Neto – É reflexo de muito trabalho. Acho que o que eu e o Luccas [irmão de Felipe, outro fenômeno midiático] fizemos no mercado editorial, de licenciamentos e de mídia foi diferente, justamente porque nós mergulhamos de cabeça no trabalho, na estratégia, na consolidação da imagem e conversão [de mídias]. Onde muitos enxergam uma brincadeira de jovens criando conteúdo, nós enxergamos negócios e trabalho. E isso se transforma em números. Mas, sinceramente, de coração, o que me faz feliz é o trabalho, não o número final. Isso é só a cereja do bolo.

Você já vendeu mais de meio milhão de livros em um país onde a leitura não é tão valorizada quanto deveria. Como é, nesse cenário, atingir as marcas que você atinge?

Introduzir o livro na vida do jovem é uma das coisas mais importantes de toda a humanidade. E digo isso sem medo de parecer exagerado. Eu sinto esse compromisso com a literatura, justamente, porque sei da importância que ela tem na minha vida. Quero cada vez mais levar projetos editoriais para que os jovens comecem a ler e criem paixão por esse hábito. Ver isso acontecendo me faz muito feliz, ainda mais nos tempos sombrios de hoje.

Seu novo livro mostra o mundo a partir do seu olhar. Como é esse mundo?

Um mundo onde é mais importante desenvolver a criatividade e a capacidade de inovar do que seguir regras padrões, que ditam nossa infelicidade enquanto tentamos nos adaptar a um mundo imperfeito. É um mundo onde crianças e jovens são ensinados, desde cedo, que o real valor da vida não é apenas passar em uma prova, mas ser capaz de utilizar a curiosidade e a inventividade para transformar sua vida e a vida das pessoas ao seu redor para algo melhor e mais feliz.

Felipe Neto (Reprodução/Internet)

Como é seguir investindo no filão infanto-juvenil com seu livro e canal no YouTube ao passo que você vem se consolidando como um formador de opinião no cenário político brasileiro, mais caracterizada um perfil mais adulto?

Meu canal no Youtube é voltado para todos os públicos. É um canal de diversão, de humor, de alívio do estresse do dia a dia. É maravilhoso ver crianças de 12 anos e pais de 54 assistindo juntos e dando risada dos vídeos. O livro segue essa mesma pegada. Porém, dentro do meu [perfil no] twitter e de entrevistas, eu não estou "criando conteúdo", estou sendo o Felipe, cidadão como qualquer outro. E as pessoas sabem diferenciar isso.

Como surgiu esse Felipe Neto mais politizado?

Foi no período das últimas eleições, quando eu percebi que o obscurantismo e a luta contra a ciência estavam ganhando mais força do que jamais se viu na história do mundo. Pessoas criando grupos anti-vacinação, acreditando que a Terra é plana, elegendo políticos terríveis que representam uma extrema-direita radical e violenta. Isso foi um alerta para o perigo que estamos vivendo e como eu deveria me posicionar nesse mundo louco. Eu não posso ver uma criança sendo ensinada pelo pai que vacina causa autismo e não fazer nada a respeito.

No Twitter, muita gente, crítica ao seu trabalho, tem brincado que o Brasil está tão louco que até quem não suportava o Felipe Neto tem concordado com suas ideias. Como é que você vê essa 'virada de casaca'?

Acho que é natural. Muita gente ainda tinha a imagem do Felipe Neto de óculos escuros, revoltado e falando palavrão. Agora, essas pessoas estão vendo que isso ficou em um passado distante. As pessoas amadurecem, é normal. Além disso, quase tudo que eu falo é incrivelmente óbvio. Eu só falo porque o Brasil ficou tão louco que até mesmo o óbvio se tornou alvo de ataques.

Você falava muita besteira nessa fase "revoltado de óculos escuros"? Você sente vergonha do Felipe Neto dessa fase?

Falei besteiras sim. Fui criado de uma forma conservadora e dentro da igreja católica mais tradicional. Fui amadurecendo e enxergando meus preconceitos com o tempo, só que com tudo isso sendo exposto na internet. Porém, não sinto vergonha nenhuma do meu passado. Acho bacana a jornada da minha vida e fico feliz em ver que é uma jornada que inspira outras pessoas a também lutarem contra seus preconceitos.

Como você encontrou esse espaço de influenciador político sem ser chato, sem ser um, com perdão da má palavra, ficar 'cagando regra'?

Chato, eu sou, mas aprendi a deixar de ser 'caga-regra' com a maturidade. Agora, existem conceitos em que você tem que 'cagar regra', porque não dá para debater. Não existe debate com sujeitos que são contra vacinação ou dizem que o aquecimento global não existe, ou que a Terra é plana, ou que os índios são vagabundos e não merecem terras. Com essa gente, é impossível debater. Você só pode apontar o quanto aquilo é errado e o quanto esse obscurantismo precisa ser combatido.

Você tem criticado bastante o governo, e não é de agora. Dependendo do que você diz, suas falas são usadas por um grupo político ou por outro, completamente oposto. Como você se vê nesse jogo de interesses?

Acontece o tempo todo. Integrantes tanto da esquerda quanto da direita vivem pegando posts meus para utilizar em discurso próprio. Eu foco em fazer a minha parte e mostrar que sou tão anti-PSL quanto sou anti-PT. Precisamos mostrar, cada vez mais, que é OK você não estar nem de um lado e nem do outro, e taxar os dois como errados.

Você já sofreu com fake news a seu respeito?

O Deputado Federal Carlos Jordy, do PSL, postou publicamente que eu tive envolvimento com o ataque terrorista na escola de Suzano [em que dois jovens mataram oito pessoas e, também, acabaram mortos]. Isso é a ponta do iceberg de um mundo de mentiras inventadas por essa turma. Pessoas que acham que estão em guerra não ligam a mínima se irão destruir vidas, desde que isso ajude sua causa. Por isso a polarização é tão problemática para o Brasil, porque as pessoas acreditam de verdade que estão numa guerra ideológica e precisam combater o outro lado com toda a força e violência possível. O meu combate é na Justiça. O Jordy já está sendo processado e outros também. Não podemos mais tolerar fake news sem fazer nada.

Felipe Neto (Washington Possato)

Você é um dos youtubers mais populares do mundo. Isso te confere algum poder?

Não me vejo com poder, mas me vejo com responsabilidades. Minha influência hoje é forte demais na vida de pessoas, algumas em período de formação intelectual, para ignorar a responsabilidade que isso traz. Por isso, eu sigo regras muito rígidas na hora de criar meu conteúdo, seguindo uma principal: não atrapalhar a educação de ninguém. Ao invés disso, tento ao máximo despertar a curiosidade, o interesse pela leitura e pela criatividade.

Felipe Neto pode se candidatar a um cargo político em um futuro próximo? Você tem alguma pretensão em se envolver dessa forma com política?

Hoje, nenhum interesse. Sinto que posso ajudar muito mais de fora do que de dentro.

Recentemente, a jornalista Miriam Leitão foi desconvidada de um festival de leitura por ter recebido ameaças, em função de suas declarações contrárias ao governo. Você teme ser atingido dessa forma?

Sim, por isso, infelizmente, vivo minha vida hoje com seguranças por todos os lados. Lido com ameaças constantemente e preciso proteger a mim e a minha família. É um preço que precisei estar disposto a pagar para poder ter voz em um momento tão tenebroso do Brasil.

Sua vida pessoal é bem resguardada. Como você se blinda do interesse nesse tipo de exposição que uma figura com sua dimensão desperta?

Eu sou muito caseiro. Além disso, sigo um mantra: as pessoas devem se interessar pelo que eu crio, não por quem eu sou. Acho que esse mantra é o que guia todos os artistas e empresários que eu admiro. Quando você começa a não ser mais debatido pelo que produz, mas, o tempo inteiro, por quem você é e pelas coisas que faz na vida pessoal, é sinal de que você perdeu sua essência criadora.

Você fez uma pausa nos shows que apresentava, filão, hoje, muito bem explorado por seu irmão, Luccas Neto. Por que?

Tive que priorizar minha saúde. Eu lanço dois vídeos por dia, crio conteúdo exclusivo para assinantes, tenho envolvimento em diversas empresas, além de cinco minhas. São centenas de funcionários, muito trabalho e ainda preciso cuidar da vida pessoal. Sinto muita falta dos palcos, mas agora está impossível.

Além do canal no Youtube, dos livros e outros produtos licenciados, você tem participações em negócios de diferentes áreas, como a digital, tecnologia, alimentícia e entretenimento. Tem algum outro projeto que você imagina realizar em breve?

Ainda não posso falar muita coisa, mas estou perto de lançar um projeto com conteúdo inteiramente voltado para criatividade, inovação e negócios. Estou há muito tempo estudando e me preparando para mergulhar de cabeça nesse novo desafio de levar educação e informação para pessoas de forma a ajudá-las a melhorar suas vidas. Vai ser o maior desafio da minha história.

* Com reportagem de Geizon Paulo

Sobre o autor

Leo Dias é jornalista e apresentador do programa “Fofocalizando”, do SBT. Foi correspondente internacional da rádio portuguesa RDP, passou pelas TVs Bandeirantes e RedeTV! e apresentou um programa na rádio FM O Dia, líder de audiência no Rio de Janeiro, onde entrevistava políticos, jogadores de futebol, dirigentes e muitos artistas. Assinou uma coluna de celebridades no jornal "O Dia" e também esteve nos jornais "Extra" e nas revistas "Contigo", "Chiques e Famosos", "Amiga" e "Manchete". Apesar dessa experiência, sempre se definiu como repórter, tamanha paixão pela apuração da notícia e pela vontade em produzir conteúdos exclusivos.Polêmico, controverso e dono de uma forte personalidade, Leo conquistou um público cativo por dar notas explosivas e audaciosas num mundo artístico mais conservador. Seu lema: “A fama tem um preço estou aqui para cobrar”.

Sobre o blog

Notícias exclusivas sobre o mundo das celebridades e os bastidores do show business no Brasil.

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